Amigos e familiares lembram legado de Agripino Lima, que completaria 90 anos nesta terça-feira

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Amigos e familiares lembram legado de Agripino Lima, que completaria 90 anos nesta terça-feira

Na carreira política, ele foi prefeito de Presidente Prudente por três mandatos, além de vice-prefeito, vereador, deputado estadual e deputado federal.

Se estivesse vivo, o professor Agripino de Oliveira Lima Filho, que foi prefeito de Presidente Prudente (SP) por três mandatos, completaria 90 anos nesta terça-feira (31). Ele morreu há três anos, mas o legado que deixou persiste no Oeste Paulista. Uma vida que marcou a história da região e de muita gente, que até hoje se lembra do homem que, com muita visão e muito trabalho, construiu um legado para muitas gerações (veja o vídeo acima).

Entre suas obras, está o Santuário Morada de Deus, que chama a atenção de quem passa pela Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Álvares Machado (SP), e atrai fiéis e turistas. É um símbolo de fé e devoção de Agripino.

“Quando ele estava morando aqui, um dia ele olhou no espelho e disse que viu a imagem de Jesus Cristo apontando para essa área para construir uma igreja para Jesus Cristo. E ele tinha uma paixão. Ele vinha aqui todos os dias”, afirmou o empresário Paulo Lima, filho de Agripino.

Porém, essa não foi a única demonstração de fé do professor. Foram dezenas de obras, que incluíram reformas e até construções de igrejas. O padre José Altino Brambilla lembrou-se da amizade que existia entre o bispo Dom Antônio Agostinho Marochi e o professor Agripino. Foi o bispo quem deu um presente que se tornou parte da imagem do professor.

“Aquela cruz, que ele carregava, ele ganhou de Dom Agostinho, que foi uma cruz que a CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] preparou para todos os bispos no Brasil na celebração dos 500 anos da primeira missa de evangelização no Brasil, lá em Porto Seguro, na Bahia. E Dom Agostinho, que era muito amigo dele, presenteou-o com aquela cruz”, relatou o padre.

Agripino também acreditava no poder transformador da educação e foi ela que o trouxe junto com a esposa Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima para Presidente Prudente. Ele foi professor e tinha orgulho disso, tanto que carregou a profissão junto ao nome como gestor, como diretor de escola.

Foi nessa época que ele percebeu que a região não formava seus professores em nível superior. Era preciso viajar, ir para outras cidades para conseguir cursar a faculdade. Surgiu um sonho que viria a se tornar uma das maiores instituições de ensino superior particular do país, a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Tudo começou com a Associação Prudentina de Educação e Cultura (Apec), com apenas alguns cursos.

“Se saísse a universidade, ela tem autonomia de criar os cursos que quisesse. Foi esse o caminho. Em 1987, o Conselho Federal de Educação autorizava o funcionamento da Universidade do Oeste Paulista. Em seguida, veio, então, a Faculdade de Medicina, de Engenharia”, explicou o médico Henrique Salvador.

Com a faculdade, vieram novos cursos e a área da saúde se tornou um foco do professor Agripino, que via a importância de ter na região a formação de profissionais para atender aos pacientes do Oeste Paulista. Os cursos de saúde, a formação dos profissionais, tudo fazia parte da visão do professor de que os moradores da região precisariam cada vez mais de atendimento médico gratuito.

A ideia de construir um grande hospital foi acompanhada de perto pelos amigos e parentes. O sobrinho e arquiteto Verginio Signoretti Junior ficou encarregado do projeto que muitos consideravam “fora da realidade”.

“Ele queria ter uma abrangência, uma atuação regional. Eram 350 leitos, 500 leitos, 750 leitos, viajando até mil leitos”, disse o sobrinho.

“O Hospital Universitário, hoje o Hospital Regional, foi feito um trabalho gigante, um esforço enorme, onde ele investiu mais de R$ 1 bilhão. Desde a concepção do terreno, do projeto, da construção, do equipamento e do custeio”, salientou Paulo Lima.

A iniciativa de Agripino e a visão dele para o HU se transformaram anos depois no Hospital Regional (HR) de Presidente Prudente, instituição que hoje pertence ao Estado de São Paulo. A principal referência no Sistema Único de Saúde (SUS) do Oeste Paulista para casos de média e alta complexidades e que, durante a pandemia, mostrou a importância do sonho do professor.

Desde a época como diretor de escola, como presidente do Centro do Professorado Paulista (CPP), como empresário da educação, com a Apec, o professor teve de lutar na esfera política para conseguir investimentos e autorizações. Foi assim que começou uma carreira política. O homem público que foi vereador, deputado federal, participando de um dos momentos mais marcantes para a democracia no país: a Assembleia Constituinte que resultou na Constituição Federal promulgada em 1988. Ele foi também vice-prefeito e, por três vezes, prefeito de Presidente Prudente.

Sua preocupação era fazer a cidade crescer e, assim, vieram importantes obras de infraestrutura. Mas, além das obras, existia a preocupação com as pessoas. O prefeito e professor investiu em educação, não só com construções, mas também com projetos para crianças e adolescentes.

“Ele fez o seu empreendimento particular, mas ele fez também o empreendimento público dentro da educação. Organizando as oficinas de aprendizagem, criando a Escola de Curtimento de Couro. Investiu e trabalhou muito para que Prudente pudesse ter a escola pública para todos também, a partir da base, a partir da creche”, lembrou Ondina Barbosa Gerbasi, ex-secretária municipal de Educação de Presidente Prudente.

As crianças, que sempre foram uma prioridade para o professor, também ganharam um espaço dedicado a elas: a Cidade da Criança.

“Era uma questão de investir na criança e no meio ambiente. Ele me fala: ‘Isto é a resposta futura’. Ele olhava 20 anos para a frente. Crianças da rede estadual, particular, tinham atividades lá dentro”, disse o sobrinho.

Quem também sempre teve a atenção do empresário, do educador e do homem público foram as minorias. Pessoas que viviam em condições de pobreza viram a solidariedade de Agripino.

“Ele sempre falou que Jesus Cristo deu muito mais do que ele pediu, que Deus tinha enviado ele para cumprir uma missão e que ele tinha cumprido na área da educação, da saúde, e na parte da fé. Na parte de amor a Jesus, a Deus, de louvor. Isso ele fez”, destacou o filho Paulo Lima.

História

Agripino de Oliveira Lima Filho nasceu em 31 de agosto de 1931, em uma fazenda que pertencia aos avós dele, em Lençóis Paulista (SP), na região de Bauru (SP). Ele foi o oitavo de um total de 12 filhos de Agripino de Oliveira Lima e Silvéria do Prado Lima.

Ainda pequeno, mudou-se com a família para Agudos (SP) e, depois, na idade de estudos, para o município de Garça (SP). Lá conheceu Ana Cardoso Maia, com quem foi casado por mais de 40 anos. Mudou-se para Alfredo Marcondes (SP). O casal teve quatro filhos: Augusto César, Ana Cristina, Maria Regina e Paulo César. Em 1963, Agripino Filho transferiu-se para Presidente Prudente para ser o diretor da Escola Estadual Maria Luíza Formosinho Ribeiro.

Foi a visão de um educador e o faro para os negócios que fizeram de Agripino de Oliveira Lima Filho um empresário que marcou a história de Presidente Prudente. Professor e diretor de escolas, vendedor de livros e de carros, advogado e pedagogo, Agripino percebeu que o ensino superior na cidade era escasso – e quem queria cursar uma faculdade tinha de ir para outros municípios.

Foi assim que, em 1972, ao lado de sua então esposa Ana Cardoso Maia, fundou a Associação Prudentina de Educação e Cultura, a Apec, com as faculdades de letras, estudos sociais e pedagogia. Durante 15 anos, foi diretor geral, professor universitário e deu início à construção de um hospital universitário. Em 1987, a Apec transformou-se em universidade, a Universidade do Oeste Paulista, a Unoeste, e 10 anos depois inaugurava o Hospital Universitário, que passou a atender milhares de pessoas do interior paulista, de Mato Grosso do Sul e do Paraná. Em 2009, a unidade de saúde passou ao controle do Estado e passou a chamar-se Hospital Regional.

Além de empresário, Agripino Filho também ficou conhecido por sua fé. O crucifixo que carregava no peito era apenas uma das formas de demonstrar a religiosidade dele. Agripino afirmava ter participado da construção de 14 igrejas em Presidente Prudente – fato que o levou a ser condecorado pelo vaticano. Mas o maior legado da fé em Cristo e em Nossa Senhora foi a construção do Santuário Morada de Deus, em Álvares Machado.

A Igreja de Jesus de Nazaré, com sua arquitetura e vitrais, a capela de Nossa Senhora da Agonia e a via-sacra com imagens em gesso se tornaram ponto de referência para os cristãos – um local visitado por milhares de fiéis todos os anos. A obra de um homem de fé que marcou a paisagem, a cultura e a religião do Oeste Paulista.

Seguindo uma tendência familiar, Agripino de Oliveira Lima Filho ingressou na vida política na década de 1970. Foi eleito vereador em Presidente Prudente por dois mandatos consecutivos – de 1972 a 1976 e de 1977 a 1982.

Em 1983, foi candidato a prefeito pela primeira vez e, apesar de ter sido o candidato com maior votação, o sistema de eleição acabou levando Virgílio Tiezzi Júnior ao cargo de chefe do Poder Executivo na ocasião.

Em 1986, foi eleito deputado federal e participou da Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição brasileira. Na ocasião, ele presidiu a Comissão de Justiça, em Brasília (DF).

Ainda durante o mandato de deputado federal, Agripino foi eleito vice-prefeito de Presidente Prudente para o mandato de 1989 a 1992. O prefeito foi Paulo Constantino.

Nas eleições municipais seguintes, Agripino foi vencedor e assumiu a Prefeitura de Presidente Prudente pela primeira vez, em 1993. Ele ainda seria eleito para o cargo outras duas vezes, em 2000 e em 2004.

As administrações de Agripino ficaram marcadas por várias iniciativas, como a criação da Escola de Curtimento de Couro, a reforma do Estádio Prudentão com a ampliação da capacidade para 45 mil lugares, a reativação do Distrito Industrial, escolas, habitações populares, pavimentação em bairros e a construção da Cidade da Criança.

Mas também era uma pessoa de personalidade forte. Ele chegou a bloquear a entrada de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na cidade.

Em 1998, Agripino de Oliveira Lima Filho foi eleito deputado estadual – com a maior votação do partido dele na época, o PFL. Foram quase 100 mil votos (99.272). Neste período, o nome dele chegou a ser cogitado como possível candidato ao governo do Estado de São Paulo, mas isso não se confirmou.

Em 2016, Agripino Lima concorreu ao cargo de prefeito de Presidente Prudente pelo então PMDB. Na disputa, ele ficou em terceiro lugar com 30.224, o equivalente a 26,81% dos votos válidos.

Agripino de Oliveira Lima Filho morreu no dia 7 de março de 2018, aos 86 anos de idade, em decorrência de falência múltipla de órgãos.

Ele foi sepultado em uma cripta localizada no interior da Igreja de Jesus de Nazaré, no Santuário Morada de Deus, em Álvares Machado.

Fonte: G1

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