Amigos e familiares fazem ato no Parque do Povo em homenagem a lutador de kung fu assassinado em Presidente Prudente
“Ele foi um lutador a vida toda. Ele lutou até o último momento pela vida dele. Lutou até o final”. O lutador de quem Maria Áurea Gomes fala é seu sobrinho-neto Luiz Henrique Tomaz, de 26 anos. O rapaz foi assassinado em Presidente Prudente (SP), no dia 11 de julho. Para homenagear o jovem, que também era atleta, amigos e familiares realizaram um ato no Parque do Povo na tarde deste sábado (17).
Maria Áurea tem 64 anos e é aposentada. Ela relatou ao G1 que estava viajando e voltou para Presidente Prudente no dia da morte do rapaz, e ninguém da família sabia sobre o que havia acontecido. “Ficamos sabendo somente por volta das 18h. Ele estava sem documentos no IML [Instituto Médico Legal]. Ainda bem que não foi enterrado como indigente. Eu que cuidei dos trâmites para o velório e enterro”, falou.
A única pessoa que sabia da morte era a mãe do jovem. “Ela é moradora de rua. Eu nem sabia onde ela estava. Eu queria fazer um velório rápido por causa da minha mãe, que tem 87 anos. Mas foram chegando os amigos e vi o quanto ele era querido. Decidi que ficaríamos o quanto fosse para podermos chorar juntos e honrar a vida dele”, contou.
Maria Áurea explicou que a mãe de Tomaz é filha de sua irmã. “As duas são usuárias de droga. Elas escolheram o caminho delas e quiseram um caminho que não foi por falta de abrigo e de acolhimento. Ele [Tomaz] nasceu no Paraná e foi criado por nós da família, os tios, principalmente pela minha mãe, bisavó dele, Maria Dantas”, ressaltou.
Sobre o pai, que agora mora no Estado de Pernambuco, ela disse que ele sempre foi ausente, mas que o sobrinho-neto havia retomado contato nos últimos meses e que descobriu que tinha uma irmã. “Ele teve uma boa infância. Tivemos uma vida simples, sem problemas. A ausência dos pais marcou muito a vida dele. Esse abandono dos pais foi algo que ele nunca entendeu. Era um assunto de que ele não falava muito”, comentou.
O esporte e os amigos
A aposentada também destacou que o esporte ajudou a salvar a vida do sobrinho diante de tantas dificuldades. “O esporte foi tudo na vida dele. O esporte salva mais do que a religião porque une as pessoas. As Olimpíadas estão chegando e a gente vê o quanto unem casas inteiras, bairros, cidades, um país todo. A educação e o esporte salvam”, falou.
Tomaz era atleta da equipe do kung fu da Secretaria Municipal de Esportes de Presidente Prudente (Semepp) e competiu diversas vezes pela cidade.
A treinadora da modalidade, Maria Michelon, afirmou ao G1 que ele foi um guerreiro, no “sentido literal da palavra”. “O Luiz era um exemplo, dedicado, esforçado, sempre atento e disposto a dar o melhor. Era um exemplo de qualidade técnica para os colegas de treino, era parceiro do grupo, não raro sempre estava ajudando, incentivando os mais novos”, citou.
A treinadora também frisou que ele “nunca teve uma vida fácil”. “Todavia, jamais deixou que os obstáculos e os desafios que a vida colocou em seu caminho desanimassem. Ao contrário disso, sempre tentava melhorar sempre, sempre. Outro detalhe interessante na vida dele: lutava em prol da sua família. Desde sempre, preocupava-se em dar o melhor para a mãe, fez tudo o que pôde por ela. Se doava para os amigos. Sempre”, salientou.
Ela pontuou que, como professora, o sentimento é de orgulho.
Homenagem
A tia-avó explicou ao G1 que o ato organizado por ela foi para homenagear o sobrinho e seus amigos. “Eu tenho muita gratidão pelo amigos do Luiz Henrique. Ele foi acolhido por eles também. Sou imensamente agradecida pelos amigos que ele escolheu, que o ajudaram muito”, contou.
Outro ponto abordado foi a importância do esporte na vida dos jovens. “Esse movimento é por gratidão à vida dele. Um morador de Presidente Prudente que serviu à cidade. O poder público precisa dar atenção aos jovens. Incentivar o esporte. Já tivemos aqui campeões olímpicos. Eu gostaria que os governantes tivessem um olhar especial para o esporte”, cobrou.
A treinadora de Tomaz não participou do ato porque está em São Paulo (SP) a trabalho no Campeonato Paulista de Atletismo Sub-20.
“Infelizmente não estarei presente na primeira de muitas homenagens que ele receberá, mas meu coração está e estará sempre ligado a esse rapaz. Acompanhei-o por um pouco mais de 10 anos. Ele era muito especial. Conversávamos muito. Sobre a vida. Mesmo diante das dificuldades, sempre foi uma pessoa do bem, tenho muito orgulho disso”, lembrou Maria Michelon.
Corações partidos
“Não estamos sofrendo apenas com a morte. Porque a morte é um fato inevitável. Mas a violência com que ele morreu é uma dor que não passa. Estamos com os corações partidos. Minha mãe, bisavó dele, está sofrendo demais. Mas temos que seguir em frente. Só temos essa saída”, afirmou Maria Áurea.
Agora, a família aguarda o desfecho das investigações. “O delegado informou que duas pessoas já estão presas. Ele também disse que estão trabalhando para solucionar o caso, indo atrás de justiça para o meu sobrinho. Ele também disse que, pelas imagens, viu que o meu sobrinho lutou muito, lutou até demais”, relatou.
Para finalizar, ela salientou que, mesmo com uma vida cheia de obstáculos, Tomaz sempre buscou e lutou para ser feliz e trilhar o caminho correto.
O caso
Luiz Henrique Tomaz foi encontrado caído no estacionamento do Terminal Rodoviário de Presidente Prudente no último domingo, dia 11 de julho. Segundo o Boletim de Ocorrência, ele apresentava um ferimento ocasionado por instrumento perfuro-cortante no tórax, embaixo do braço direito.
O atleta chegou a ser levado para o Hospital Regional (HR), mas não resistiu. Na ocasião, testemunhas disseram que houve uma discussão e que ele foi golpeado e saiu correndo até o estacionamento.
Quando foi encontrado, o jovem já estava inconsciente e não portava documentos.
No dia 14 de julho, a Polícia Civil informou que havia prendido dois homens suspeitos de envolvimento na morte de Tomaz. O delegado Claudinei Alves, que é o responsável pelas investigações, informou ao G1 que um dos suspeitos segurou a vítima e o outro desferiu um golpe de canivete que feriu o atleta.
Segundo o delegado, um dos homens, de 20 anos, segurou a vítima por trás para que o outro suspeito a esfaqueasse. Ele confessou participação no crime durante depoimento à Polícia Civil.
Já o segundo suspeito, de 32 anos e apontado como autor do crime, admitiu que agrediu a vítima, mas não confessou, durante seu depoimento à polícia, que desferiu a facada.
De acordo com o delegado, os dois suspeitos são pessoas que vivem em situação de rua.
Alves explicou que no local do crime houve uma briga que envolveu mais pessoas. Tomaz também foi agredido com chutes e pauladas.
Também na mesma data, a Secretaria Municipal de Esportes de Presidente Prudente emitiu uma nota em que lamentou com tristeza e pesar a morte do atleta.
“Ele era praticante da modalidade Kung Fu havia 10 anos, graduação faixa roxa, sétima faixa do estilo de kung fu zou chuan da Associação Shizuka de Kung Fu Wushu. Participou em vários eventos representando a cidade de Presidente Prudente e a Semepp, alcançando pódio em campeonatos internos, estaduais e interestaduais”, destacou a pasta municipal.
Por Heloise Hamada, G1 Presidente Prudente
Fonte G1.
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