Amantes do ferromodelismo criam clube de colecionadores e reavivam lembranças da infância sobre o universo do transporte em trilhos
Com entrada gratuita e aberto ao público interessado, evento em Presidente Prudente (SP), neste sábado (30), contará com exposição de miniaturas e maquetes interativas.
Amantes do transporte ferroviário estarão reunidos neste sábado (30), em Presidente Prudente (SP), em um evento que promete reavivar-lhes, através de miniaturas, lembranças da infância e da juventude sobre o universo das locomotivas e dos trilhos. Com entrada gratuita e aberta ao público interessado, o encontro contará com exposição de objetos de coleção e maquetes interativas e ainda marcará a inauguração do Clube de Ferromodelismo de Presidente Prudente (veja mais informações sobre o evento na parte final desta reportagem).
O ferromodelismo reproduz características que compõem o universo ferroviário em escala, ou seja, em proporções reduzidas.

Este nicho do modelismo soma possibilidades de representação de diversos itens que podem ser encontrados em ferrovias e, assim, permite a interação simultânea dos modelistas com os elementos que estão compostos nas maquetes.
Os primeiros trens em miniatura foram fabricados, por volta de 1830, por artesãos alemães. Sua origem advém da época em que o transporte ferroviário era adotado em massa.
Nos dias de hoje, principalmente no Brasil, este transporte de passageiros perdeu muita força, mas, mesmo assim, o gosto de alguns colecionadores pelo hobby só aumentou.
Alguns modelos de miniaturas chegam a valer em torno de R$ 7 mil.
Paixão dos colecionadores, modelos e valores
Os modelos variam de acordo com as escalas, que são definidas a partir do tamanho e da proporção dos objetos.
Além das escalas, a caracterização dos modelos também leva em consideração o tamanho das bitolas, que é o espaço entre os perímetros internos dos trilhos.
Segundo o colecionador e ferromodelista Wilson Roberto Lussari, as proporções dos modelos vão da escala F, 1:20 (modelo reduzido 20 vezes em relação ao tamanho do protótipo) até T, 1:450 (reduzido 450 vezes em relação ao tamanho do protótipo).
Em ordem de tamanho, os modelos de escala mais conhecidos são: T, Z, N, TT, HO/OO, S, O, I e G/F.
O ferromodelista também afirmou que a comercialização e a utilização de escalas predominantes no Brasil são as do modelo HO (1:87).
“A escala HO tem uma boa proporção para se fazer uma maquete que concilia tempo, espaço e dinheiro. Outro fator de peso é a variedade disponível em HO no Brasil, é de longe a maior de todas as escalas. Com a tendência de residências e apartamentos menores, as escalas N e Z ganharam espaço. Mas a HO ainda deve dominar o mercado por um bom tempo.”, disse Lussari.
Ele comentou que a sua paixão pelo ferromodelismo iniciou-se ainda na infância, em viagens feitas de trem ao visitar parentes na região da Alta Paulista, no interior do Estado de São Paulo. Porém, apesar disso, só iniciou sua coleção em 1978, quando comprou os primeiros modelos.
“Eu nasci em uma família que viajava muito de trem. Naquela época, o trem ainda era o meio de transporte mais fácil para se viajar. Ele tinha uma magia para as crianças, e isso incentivava o gosto e a admiração pelo transporte. Por volta de 1974, quando eu comecei a trabalhar, tive a experiência do plastimodelismo, que é a montagem de miniaturas em plásticos. Já em 1978, comecei a comprar meus primeiros modelos de ferromodelismo e, curiosamente, meu primeiro modelo foi na escala N, na proporção de 1:160.”, complementou o ferromodelista, de 63 anos.
Lussari deu detalhes sobre definições da prática e falou sobre os preços dos materiais para quem deseja começar no mundo do ferromodelismo.
“A prática pode ser exata, posso fazer uma réplica de um pedaço de ferrovia, de um vagão ou de uma locomotiva, por exemplo. Mas também pode ser uma réplica de uma operação ferroviária”, explicou o colecionador.
“Você consegue comprar materiais baratos, a partir de R$ 50, até modelos de R$ 5 mil. Isso vai depender da natureza do produto, do tipo de material, do período de fabricação e da condição de uso, hoje existe uma grande variedade. O fabricante nacional trabalha com produtos mais acessíveis, que oscilam nos modelos de vagões e carros de passageiros na faixa de R$ 80, e locomotivas de R$ 400 a R$ 500”, complementou Lussari.
O colecionador e vice-presidente do futuro Clube do Ferromodelismo de Presidente Prudente, Paulo Alberto Alvim Franzini, explicou que o amor pelo mundo ferroviário foi herdado de seu pai.
“Meu pai sempre me levava na estação e no porto de Presidente Epitácio [SP] para ver as manobras ferroviárias. O trem teve uma influência muito forte na nossa região e isso me marcou muito”, contou Franzini.
A coleção de Paulo foi iniciada no ano de 1984 e, hoje, é composta por mais de 160 locomotivas e 200 vagões.
Segundo o colecionador, de 59 anos, algumas peças de sua coleção foram feitas utilizando impressoras em 3D.
“Hoje, com as impressoras em 3D, está ficando melhor ainda, pois podemos criar nossos modelos e produzir nossas próprias peças. Eu tenho amigos que fazem projetos e os imprimem de acordo com as minhas especificações”, mencionou ele.
Franzini tem contato quase diário com o hobby e sempre faz customizações, alterações, funilaria, pinturas e modificações em suas locomotivas e vagões. Ele falou que o ferromodelismo representa em sua vida uma “volta ao passado”.
“Ferromodelismo, para mim, é uma forma de distração e relaxamento desta vida estressante que temos hoje. Desta forma, com a prática, eu crio um mundo fictício e retorno a um passado em que via a ferrovia em total funcionamento”, concluiu.
O colecionador e presidente do Clube do Ferromodelismo de Presidente Prudente, que será inaugurado neste sábado (30), Michel Tanury Macruz, contou que a sua relação com a atividade surgiu recentemente, a partir de sua paixão por outra categoria, o aeromodelismo.
“Sou aeromodelista há 40 anos, bem antigo no hobby, então, pratico há muito tempo. Neste ano de 2022, comecei a me interessar pelo ferromodelismo. Na infância, eu já tinha tido algum trenzinho, claro que não era ferromodelismo propriamente dito, mas eram trens que andavam em linhas e percursos, porém, nada comparado ao que temos hoje. Eu sempre gostei de aviões e trens, principalmente do barulho que a gente ouvia nas estações.”, disse Tanury.
O colecionador, de 51 anos, também falou que comercializa peças para modelistas.
“Nós temos uma loja especializada no ramo aqui em Presidente Prudente, onde vendemos peças de reposição nacionais e importadas. Eu, por exemplo, adquiro direto com a Frateschi, que é a única fábrica do Brasil que fabrica trens na escala HO, essa fábrica está situada em Ribeirão Preto [SP]. Os grupos de encontro existem de maneira virtual, pelas redes sociais, e presenciais, pelos amigos que fazemos durante as trocas e vendas de materiais do hobby, então, cada um faz o seu próprio mercado”, explicou o presidente.
Sobre valores, o presidente do clube afirmou que os produtos nacionais são mais baratos do que os importados, mas, segundo ele, a qualidade não é a mesma.
“O produto nacional é bem mais barato do que o importado, porém, a qualidade do nacional é bem inferior à dos produtos importados. Uma locomotiva nacional, por exemplo, custa em torno de R$ 400, já uma importada custa em torno de R$ 800 ou R$ 1.000. A Frateschi fabrica uma caixa básica chamada ‘Meu primeiro trem’, que vem com locomotivas, vagões, trilhos e controladora, custando por volta de R$ 500. Assim, uma pessoa pode estar iniciando no hobby com um investimento aproximado deste valor”, concluiu Michel.
Atual situação ferroviária do país
As histórias dos colecionadores, que conversaram, evidenciaram o grande apreço que eles têm pelas lembranças da infância e da juventude envolvendo o universo ferroviário.
Michel Tanury Macruz, que aprecia as composições ferroviárias desde criança, na época em que visitava sua tia que morava perto de uma linha de trem, definiu o transporte ferroviário brasileiro como precário.
“O transporte ferroviário no Brasil é precário no sentido de que muitas linhas e trechos estão desativados, e a gente sabe que pra recuperar isso tudo requer muito investimento e dinheiro. Muitos retornam a pensar na viabilidade técnica, do retorno que isso vai dar ou não. A região da Alta Sorocabana, onde morei, interligava regiões e trechos importantes, no entanto, hoje em dia, os trilhos e estações estão abandonados”, opinou Macruz.
O ferromodelista também expressou sua opinião referente às alternativas viáveis do transporte ferroviário para os dias atuais.
“Falando dos trens de carga, das estações ferroviárias, que não passam dentro de grandes metrópoles, eu vejo que o Brasil meio que esqueceu de alguns setores com a desativação de muitas linhas. Eu acho que o trem, assim como a navegação fluvial, seria interessante para tirar um pouco de caminhões das estradas, acredito que este transporte tem capacidade de escoar grãos, commodities e tudo o que o país produz. Outro ponto seria a interligação de cidades. Claro que o trem não andaria a 30 ou 40 quilômetros por hora nos dias de hoje. Com certeza, teríamos linhas e trens mais velozes”, completou o colecionador ao g1.
Wilson Roberto Lussari também mencionou o alto custo do desenvolvimento da infraestrutura do meio de transporte ferroviário.
“Temos que entender que o transporte ferroviário não é uma coisa barata, é uma infraestrutura extremamente cara, que só se justifica se existir o transporte em volume para baratear o custo de tonelada por quilômetro. Caso exista uma rodovia que transporte rapidamente, com mais flexibilidade, para pessoas, cargas e volumes, é ótimo. Ou seja, o custo benefício compensa”, comentou.
“Mas, se eu tiver que transportar gigantescos volumes de cargas, aí, sim, se justifica o trem, pois ele vai trabalhar no volume e na frequência de uso. Por isso que, no Brasil, as grandes linhas de ferrovias estão ligadas a commodities, grãos e minérios, além do transporte metropolitano, que é bem específico e de massa. Assim, a ferrovia de passageiros não tem muito espaço, pois é difícil concorrer com o transporte rodoviário, não só pelo tempo, mas também pela comodidade e flexibilidade”, complementou Lussari.
Evento e inauguração do clube
O 1º Encontro de Ferromodelismo de Presidente Prudente e Região acontece neste sábado (30), das 9h às 18h, nas dependências da Via Hobby Modelismo, localizada na Rua Caramuru, 360 , na Vila Maristela. O evento reunirá diversos amantes deste hobby e também marcará a inauguração oficial do Clube de Ferromodelismo da cidade. O acesso do público ao encontro é grátis.
Wilson Lussari falou a importância do evento e a futura possibilidade de entrada no calendário do município.
“O evento é super importante não apenas do ponto de vista de reunir aficionados sobre o assunto, mas principalmente de fazer uma divulgação. Outro ponto importante é que o evento entra, futuramente, no calendário do município. Com isso, ele se torna algo permanente que pode ajudar a atrair interessados que venham para a nossa cidade e também compartilhar não só seus gostos pelas ferrovias, mas também pela paixão do modelismo. Fazer a divulgação do ferromodelismo é manter viva a cultura e o ideal das ferrovias, que faz parte da história do Brasil”, explicou, com empolgação, Lussari.
Segundo Paulo Franzini, organizador do evento e vice-presidente do clube, o público poderá conhecer algumas maquetes.
“O ferromodelismo, ou modelismo ferroviário, é a porta de entrada a um mundo cheio de expectativas e realizações. Mostras, encontros, convenções e shows de ferromodelismo são uma ótima justificativa para viajar e conhecer novos lugares e pessoas, além de passeios de trem por lugares exóticos e fantásticos”, detalhou, sobre a prática, o organizador.
O colecionador e presidente do clube, Michel Macruz, também adiantou que o encontro terá uma maquete fixa.
“O evento contará com uma maquete que ficará montada de forma fixa, caso alguém queira colocar um trem ou composição para rodar. O objetivo geral é inaugurar o clube, reunir todo mundo e divulgar aquilo que a gente está realizando em Presidente Prudente no sentido de reativar essa prática. Estamos juntando todo mundo de uma forma que a gente possa estar reunindo o pessoal de fim de semana. A ideia, futuramente, é realizar em um espaço maior, para conseguirmos receber mais pessoas. Queremos adeptos para o clube”, finalizou Tanury.
Fonte: G1
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