A banalização da violência doméstica
Não é de hoje que se discute a violência doméstica e seus desdobramentos maléficos. Ameaças, chantagens, humilhações, mentiras, agressões verbais e físicas. Todas, sem dúvida, muito doloridas, até porque palavras também machucam. Ninguém sai ileso de agressões sarcásticas que minam a autoestima, principalmente quando vêm de pessoas que depositamos confiança.
As estatísticas da violência doméstica contra as mulheres são assustadoras, assim como as motivações e justificativas dadas pelos seus parceiros. Infelizmente, nem toda mulher tem coragem de denunciar. Os abusos constantes a deixa tão fragilizada que quando reage é apontada pelo agressor como desequilibrada, o que a faz sentir-se mais culpada e vulnerável.
Muitas vezes ela busca apoio em amigos e familiares, mas, mesmo indignados, poucos reagem. Frases como “não quero me intrometer” ou “tudo vai melhorar com uma boa conversa” são mecanismos defensivos para justificar a omissão. Tal comportamento é uma forma de negação que não ajuda em nada e só reforça a banalização da violência.
E é sobre esta banalização que precisamos refletir, uma vez que a falta de reação traz consequências danosas, pois além de fomentar ainda mais a violência, esta passa a ser vista, de certa forma, com indiferença. Impunidade, desrespeito e individualismo são algumas das razões para a manutenção desta apatia.
É possível observar uma preocupação em superar a violência. Contudo, muitos dos que relatam sua raiva e perplexidade, inclusive nas redes sociais, no fundo, não buscam resolver a situação porque pensam que alguém cuidará disto. Ou, mesmo aqueles que se movimentam ainda assim não são suficientes para mudar o cenário. Com isso, as situações passam a ser tão corriqueiras que, de tão habituais, não percebemos o mecanismo do nosso psiquismo. Esse conformismo social é o que dificulta a compreensão do movimento de ação-reação e a nossa responsabilidade nele, mesmo que indireta.
A violência sempre esteve presente na história do ser humano, mas não podemos ser cumplices dela. No caso da violência doméstica, é preciso ultrapassar uma cultura que, de certa forma, ainda reproduz um antigo discurso de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, frase esta que, dentre outras, é sintoma de uma sociedade machista. Pensar dessa maneira perpetua os valores disfuncionais e tem impacto negativo na autoestima da mulher que, de certa forma, reflete em todo mundo.
Apesar das inúmeras campanhas contra a violência doméstica e das leis que procuram punir os agressores e proteger as vítimas, romper com o ciclo da violência é tarefa de todos nós, pois não se trata de um problema particular, restrito apenas ao casal, e sim da sociedade. Portanto, é preciso intervir sim e denunciar, pois a situação pode se agravar a tal ponto que não é incomum terminar em morte.
O assunto é extenso e há muito que se discutir a respeito. De qualquer forma, temos que nos conscientizar que delegar ao outro a responsabilidade de mudar, nos torna individualista e nos faz desaprender a arte do respeito e da convivência. E, em se tratando de violência, o ciclo se repete.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga
Por Jô Alvim, Psicóloga
Fonte G1.
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